Biografia do Pintor Mário Augusto

Os seus dotes de artista não passaram despercebidos e muitos acreditaram e investiram no seu projeto de vida: por um lado, o artista António Conceição Silva (1869-1958) que se disponibilizou para o orientar, dando-lhe lições de desenho e pintura que o capacitaram para ingressar na Escola de Belas Artes em Lisboa. Por outro lado, o benemérito Nicolau Santos Pinto que lhe concedeu, durante algum tempo uma pensão e que lhe proporcionou uma viagem a Madrid, onde permaneceu quatro meses, o que lhe permitiu visitar museus e copiar obras de grandes mestres, dos quais elegeu Velasquez como seu maior ídolo..Mário Augusto dos Santos nasceu a 23 de julho de 1895, em Alhadas, onde passou a infância e parte da juventude, conciliando a ajuda ao pai, nos trabalhos de carpintaria, com o gosto pelo desenho, vocação que se manifesta precocemente e que acabará por se transformar em paixão e sonho de vida. O seu perfil empreendedor leva-o a querer transformar os sonhos em realidade. O risco não o impediu de rumar a Lisboa com apenas dezasseis anos e de procurar oportunidades para desenvolver competências e novas aprendizagens na pintura. Sem nunca perder de vista o rumo que traçou, não se poupa a esforços. Trabalha de dia numa oficina de carpintaria e estuda de noite, na Escola Industrial Machado de Castro, pois não se conhecem empreendedores sem dor.

De regresso a Portugal, ingressou no ano letivo 1916/17 na Escola de Belas Artes do Porto, onde concluiu o  Curso Geral de Belas Artes. Retornou à capital e, graças à influência de Conceição Silva, é nomeado Mestre Provisório de Trabalhos Manuais da Escola Industrial Rodrigues Sampaio, transferindo-se depois para a Escola Fonseca Benevides, como Mestre de Pintura Decorativa, terminando a carreira na Escola António Arroio, onde lhe foi atribuída a categoria de Mestre Efectivo da Oficina de Pintura de Lisos e Fundos. Paralelamente, dava aulas particulares de pintura, e o seu nome fazia parte dos registos dos professores de pintura dos cursos da Sociedade Nacional de Belas Artes.

Ao longo do seu percurso de vida, Mário Augusto conciliou a atividade profissional com a carreira artística. Desenvolveu as suas próprias técnicas, destacando-se no meio artístico graças à harmonia de cores e à delicadeza de estilo, apostando sempre na aprendizagem e na excelência.

A sua primeira exposição ocorreu em Maio de 1920, aquando da “17ª Exposição da Sociedade Nacional de Belas-Artes”, em Lisboa, onde foi premiado com a Menção Honrosa, graças ao Retrato de Augusto Lopes dos Santos considerado o seu primeiro retrato a óleo. Foi este o primeiro galardão que recebeu da S.N.B.A., assinando ainda como Mário Santos. Participou doravante em praticamente todas as exposições da S.N.B.A até ao final dos seus dias, reconhecendo nelas um meio eficaz de divulgação dos seus trabalhos. Expôs  também nas iniciativas promovidas pelo Salão Bobone.

O reconhecimento pelo mérito da sua obra expressa-se nos prémios  que foi recebendo, confirmando deste modo o valor das suas inegáveis qualidades como pintor. Assim, na 22ª Exposição da S.N.B.A., realizada em 1925, recebeu a Medalha de 2ª classe. Na Exposição d’Arte no Museu João de Deus, em Lisboa, ganha em 1927, o Diploma e Medalha de Mérito pela sua participação.

Contudo, o ano de 1931 acabaria por lhe trazer a consagração como pintor,  Neste ano foi-lhe atribuída a 1ª medalha da 28ª Exposição da S.N.B.A., graças ao Retrato do Pintor Conceição Silva. Além disso, neste mesmo ano, um dos seus quadros, Raparigas da Minha Terra, foi adquirido pelo Estado para o Museu do Chiado, começando assim, uma nova etapa para o artista, reveladora do seu amadurecimento como tal.

Em 1932, a Junta de Educação Nacional, através do Dr. José de Figueiredo, concedeu-lhe uma bolsa de estágio, a fim de frequentar alguns centros de estudos no estrangeiro. Neste estágio, com duração de dois meses, Mário Augusto visitou Marrocos, Paris, Londres, Bruxelas e Espanha, passando pelos principais museus e centros de formação académica. Apresentou na 30ª Exposição da S.N.B.A., em 1933, os seus apontamentos de viagem como é o caso das obras: Rue de la Voie Verte e Charing Cross, atualmente expostas na Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves (Lisboa).

As marcas desta viagem contribuíram certamente para o alargamento do seu ecletismo e uma nova atitude artística, contudo Mário Augusto transporta e imortaliza também nas suas telas os lugares por onde passou, em Portugal: Caldas da Rainha, Cacém, Figueira da Foz e, claro está, Alhadas, entre outros lugares, e com eles as suas memórias retocadas de afetos.

 O ano de 1935, destaca-se na divulgação da sua arte, participando: na 33ª Exposição da S.N.B.A., 1ª Exposição de Arte Retrospectiva da S.N.B.A. (é escolhida a obra O Latoeiro), em 1937; Salon de Arte do Estoril, em 1938, onde obterá o primeiro prémio com a obra Izaura( que serviu de inspiração ao logótipo da Biblioteca Escolar de Alhadas). No ano de 1941, Mário Augusto expõe na 38ª Exposição da S.N.B.A. e, graças ao Retrato da EXMª Senhora Condessa de Pinhel, é-lhe atribuído o Prémio Silva Porto, isto é, o galardão máximo de então, paralelamente à Medalha de 1ª Classe no Pastel que recebe com aquele que se considera ser o seu último retrato, conhecido por Retrato de minha mulher.

Pouco tempo depois de receber este prémio, Mário Augusto dos Santos desloca-se até à sua terra natal, onde acaba por falecer a 18 de agosto de 1941, tuberculoso. Não tardariam a manifestar-se, um pouco por todo o país, homenagens com o intuito de recordar, com emoção, a sua obra.

Em sua homenagem, foi criado em 1942 o Círculo Artístico Mário Augusto, que pretendia continuar o trabalho desenvolvido pelo artista, como afirma o seguinte comunicado do grupo: “Fomos buscar principalmente a Mário Augusto o exemplo, a sua fé inquebrantável, a alma de artista que alcandorou à eminência dum dos melhores pintores contemporâneos. Esta pretende ser a casa para o principiante, tanto como para o Mestre; para o que ensina e para o que se aperfeiçoa; tanto como para o que trabalha simplesmente porque ama a Arte.”

O Círculo organiza, no mesmo ano, a Exposição de Pintura- Homenagem póstuma ao Pintor Mário Augusto, na S.N.B.A.. No Museu Municipal Dr. Santos Rocha, desde 1945, pode ser visitada a Sala Mário Augusto, onde, em local digno, se podem observar grande parte das obras do artista.

Mais tarde, em 1995, foi atribuído o seu nome a uma rua na cidade da Figueira da Foz e, no ano de 1996 decorreu a Exposição Retrospectiva de Mário Augusto (Museu Municipal Dr. Santos Rocha – Figueira da Foz), no âmbito das comemorações do centenário do nascimento do Pintor, exposição de grande importância no reconhecimento desta digna personalidade figueirense.

Alguns dos seus quadros encontram-se expostos nos museus de Arte Contemporânea, de Lisboa, Gão Vasco, de Viseu, José Malhoa, nas Caldas da Rainha e Municipal Dr. Santos Rocha, na Figueira da Foz, entre outros.